quarta-feira, 13 de junho de 2012

“O amor, a confiança e a fidelidade como proteção da Aids”



Por Silmara Conchão

Em pesquisa realizada recentemente com jovens do ensino médio em escola pública noturna, foi perceptível que todos (as) tinham informação sobre a Aids e sabiam que usar preservativo é uma forma de evitar a doença, uma certa preocupação que não condiz com a prática do sexo sem proteção revelada em diversos momentos na roda de conversa.
A vulnerabilidade masculina está relacionada a aspectos da masculinidade no sentido de sentir-se forte, imune a doenças, ser impetuoso, correr riscos e achar que o desejo sexual é incontrolável. A decisão de não usar camisinha é feita pelo homem, a mulher tem que confiar nele. A não utilização do preservativo masculino, segundo rapazes desse grupo, é atribuída à perda de sensibilidade na relação sexual e aos impulsos incontroláveis.
De acordo com a UNESCO, a população mais afetada, desde o surgimento da epidemia no país, tem sido a de 25 a 39 anos, tendo em vista o período de incubação do vírus da Aids (de 10 a 15 anos). Nota-se que os jovens estão se infectando entre os 15 e 25 anos, em sua maioria. Entre os homens acima de 13 anos a principal forma de contaminação é a relação sexual (61,6%), dividindo-se entre as categorias heterossexual e homossexual, cada uma com 24%, e bissexual, 13,7%. Na população feminina, a principal via de contaminação ocorre por meio da relação sexual, de padrão heterossexual (85,5%).
A epidemia da Aids mesmo com as vitórias acumuladas na sua assistência e no seu enfrentamento, que só foram possíveis pela atuação de inúmeras organizações governamentais e pela militância dos movimentos de luta contra a Aids, mesmo com a queda no número de óbito e sua relativa estabilização entre os homens homossexuais e bissexuais, a Aids vem crescendo entre as mulheres e em relações heterossexuais.
O risco da infecção feminina da Aids se dá por conta das relações desiguais de gênero que se manifesta na dificuldade de se fazer o uso da camisinha no relacionamento heterossexual estável, já que a prática envolve relações de confiança, compromisso e não reconhece a possibilidade mútua de um caso extraconjugal. Quem vive relações heterossexuais estáveis acredita que não corre perigo, considera o amor e as promessas de fidelidade como suposta proteção.        
            Faz-se urgente que os (as) profissionais dos serviços de saúde e educação ofereçam mais do que conhecimentos sobre a epidemia da Aids aos (às) jovens. Não adianta somente alertá-los (as) dos riscos, é preciso que abordem a problemática da infecção da doença pela perspectiva de gênero, ou seja, que discutam e reflitam com esse público a dinâmica social dos relacionamentos machistas entre homens e mulheres. As ações educativas para a prevenção da Aids devem considerar a maneira como estas relações social e culturalmente estão estruturadas, criando assim, possibilidades para a revisão de valores e atitudes para o exercício livre, com prazer e responsável da sexualidade na juventude e pra toda a vida.


Para saber mais: silmaraconchao13@blogspot.com - ou adquira o livro Masculino e Feminino – A Primeira Vez - por Silmara Conchão. Editora Hucitec. SP, 2011.

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