JUVENTUDE, SEXUALIDADE E
POLÍTICAS PÚBLICAS
As
políticas públicas voltadas para adolescentes e jovens desconsideram os
diversos aspectos da sexualidade, na medida em que não reconhecem que é parte
do desenvolvimento e das relações entre as eles (as) os conceitos de amor,
sentimentos, emoções, intimidade e desejo. Estes temas não se incluem, como se
deve, nas intervenções em educação e saúde. Nesta perspectiva, adolescentes não
são reconhecidos socialmente como pessoas sexuadas, livres e autônomas, o que
os tem submetido a situações de vulnerabilidade no que diz respeito à infecção
das DSTs/Aids e gravidez indesejada.
Suponho
que este fato é resultante de um conjunto de aspectos não apenas individuais,
mas também coletivos, contextuais, que acarretam situações distintas entre os
rapazes e as moças, por uma desigualdade de gênero, ainda muito presente em
nossa cultura. Mas as representações correntes sobre adolescência carregam
estereótipos como “fase problemática da vida”, “existência de uma personalidade
específica”, que vivem em “crise e aborrecentes”, e assim, desconsidera o
contexto sociocultural.
Todo esse discurso produz
rótulos danosos e individualiza a problemática que afeta a saúde sexual e
reprodutiva desse público. De acordo com Helena Abramo (1997), podemos supor
que a juventude seja um barômetro das mudanças sociais, pois a reconhecemos
como uma geração responsável pela transmissão de valores ou pela ruptura de
determinados padrões. Desse modo, ela é usualmente analisada a partir da ótica
de “problema social” quando se afasta das expectativas sociais nela
depositadas.
Quantas vezes não ouvimos
afirmações que lançam mão de rótulos para explicar a maior susceptibilidade de
adolescentes e jovens à Aids e à gravidez não planejada? Tais rótulos não nos
dão instrumentos para lidar com o problema, além disso, retira a
responsabilidade dos diferentes setores da sociedade em relação a essa questão.
Setores como os meios de comunicação de massa, religião, escolas e equipamentos
de saúde.
A
construção de elementos que irão ao encontro das necessidades do público
adolescente e, mais especificamente, meios para a prevenção da Aids e da
gravidez não planejada, não só dependem da ampliação do acesso desses
indivíduos à informação e aos recursos para se protegerem, mas principalmente
de transformações sociais mais profundas, relacionadas ao contexto no qual
estão inseridos.
Estamos
diante de novos desafios e poucos avanços, pois, os velhos dilemas permanecem e
obedecem a um padrão conservador de moralidade, promovendo a histórica violação
dos direitos sexuais e reprodutivos nessa fase. Tal realidade tem alimentado
práticas discriminatórias inaceitáveis, provocado situações de exclusão, evasão
escolar e mortes que poderiam ser evitadas, como as causadas pelas práticas de
aborto inseguro, a mortalidade materna e a homofobia.
Que as políticas públicas
deem conta de atender os direitos básicos, sexuais e reprodutivos dessa galera
para que possam gozar da sua saúde em paz, sem medo ou solidão, sem riscos, nem
sentimentos de culpa e assim elaborar seus projetos de vida e viver muito para
realizar os seus sonhos.
Por
Silmara Conchão
Mestra em Sociologia pela FFLCH/USP, professora
da Faculdade de Medicina do ABC e autora do livro Masculino e Feminino: a
primeira vez - Editora Hucitec
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