HOMOSSEXUALIDADE: a modernização dos costumes e as garras
do conservadorismo
Por Silmara
Conchão
Em minha pesquisa[1] realizada em Santo André sobre
sexualidade foi notável as opiniões divergentes sobre o tema em um grupo de jovens.
Apesar de alguns afirmarem não ter preconceito viu-se nitidamente a contradição
quando surgiram expressões do tipo: “eu não tenho preconceito, mas não ando com gay, não
converso, não critico e não tenho amizade” ou “se eu vejo, não vou ficar xingando, saio de perto”.
Observou-se uma maior tolerância
das moças frente ao tema, que com mais tranqüilidade disseram ter amizades com
garotas e garotos gays. Em tom maduro, afirmaram a importância das pessoas
assumirem primeiro para si sua identidade: “Eu acho que se você é gay, você tem que ser o
que é e se aceitar”.
As reações discriminatórias foram
maiores entre os rapazes, contudo, não se pode afirmar que as opiniões são
imutáveis, ou seja, por toda a vida pensarão desta forma. A presença de gays
nos espaços públicos parece desafiar a reputação do “macho” que se sente
ofendido diante de dois homens namorando.
Indignados, alguns rapazes disseram
que hoje em dia tem gay em todo o canto: na TV, na escola, no metrô, nas ruas,
no trabalho. Afirmam que a TV teve um papel fundamental para que gays fossem
para as ruas como estão hoje. E com isto “se as crianças virem homem com homem ficam
induzidas”.
Para alguns esse fato seria uma ótima justificativa para que homossexuais não
namorassem em locais públicos.
A discriminação contra homossexuais
ocorre, em muitas vezes, de forma velada, por meio de referências
preconceituosas e pejorativas com o intuito de humilhar, discriminar, ofender,
ignorar, isolar e ameaçar.
Decorre dessa situação, para adolescentes
homossexuais, uma dificuldade imensa em como administrar o estigma social. Esse
constrangimento, produto de nossa
educação machista, modula o modo de administrar sua identidade sexual. Uns
assumem publicamente a existência de um (a) parceiro (a) do mesmo sexo, outros tentam
disfarçar e se esconder. Em ambas as situações, tenham certeza, há muita dor e sofrimento.
Mesmo assim, na pesquisa houve uma declaração
corajosa de um dos rapazes que revelou no grupo sua bissexualidade. Namora e
freqüenta boate gay com a namorada, e se diz a favor da felicidade das pessoas,
pois, isto é o que importa e que ninguém, segundo ele, tem que obedecer a “dogmas religiosos”, “tem sim é que buscar suas formas de sentir
prazer e viver coisas novas”.
Embora vivamos numa
sociedade que ainda insiste em nos ensinar que a heterossexualidade é a mais
natural, correta e até mesmo a única maneira de nos relacionarmos afetiva e
sexualmente, na vida real vemos que as práticas são outras e o debate sobre a afirmação da
homossexualidade, está em curso.
Este debate é pautado sobre um clima de crescente
liberalização dos costumes associados a estilos de vida diversos que vem se
mostrando a cada dia. Ao mesmo tempo, o conservadorismo tem afiado suas garras
para manter a homossexualidade no campo da promiscuidade, da doença, do desvio
de comportamento, do feio, do pecado, e se mostra violento com reações que
discrimina, humilha e mata. Direitos humanos, sexuais e reprodutivos são pra
toda gente, sem distinção. Está na hora de repensarmos valores e o nosso papel na
luta contra qualquer tipo de violência.
[1] Para
saber mais adquira meu livro: Masculino e Feminino, a primeira vez, no site da Editora
Hucitec.
Oi Silmara,
ResponderExcluirAdorei deu texto. Infelizmente vivemos sob a ignorância de uma sociedade patriarcal e machista. E pior, mtos vestem a camisa do "diga não ao preconceito" porém reagem com uma espécie de asco ao dividir seu espaço com homossexuais, lamentável. Acredito que toda forma de amor merece respeito, e logo se ensinarmos isso aos nossos filhos é bem provável que aos poucos possamos exinguir esse paradigma.
Bjão
Fernanda Tezza