terça-feira, 8 de maio de 2012

Homossexualidade: a modernização dos costumes e as garras do conservadorismo


HOMOSSEXUALIDADE: a modernização dos costumes e as garras do conservadorismo
Por Silmara Conchão
             
Em minha pesquisa[1] realizada em Santo André sobre sexualidade foi notável as opiniões divergentes sobre o tema em um grupo de jovens. Apesar de alguns afirmarem não ter preconceito viu-se nitidamente a contradição quando surgiram expressões do tipo: “eu não tenho preconceito, mas não ando com gay, não converso, não critico e não tenho amizade” ou “se eu vejo, não vou ficar xingando, saio de perto”.
            Observou-se uma maior tolerância das moças frente ao tema, que com mais tranqüilidade disseram ter amizades com garotas e garotos gays. Em tom maduro, afirmaram a importância das pessoas assumirem primeiro para si sua identidade: “Eu acho que se você é gay, você tem que ser o que é e se aceitar”.
           As reações discriminatórias foram maiores entre os rapazes, contudo, não se pode afirmar que as opiniões são imutáveis, ou seja, por toda a vida pensarão desta forma. A presença de gays nos espaços públicos parece desafiar a reputação do “macho” que se sente ofendido diante de dois homens namorando.
           Indignados, alguns rapazes disseram que hoje em dia tem gay em todo o canto: na TV, na escola, no metrô, nas ruas, no trabalho. Afirmam que a TV teve um papel fundamental para que gays fossem para as ruas como estão hoje. E com isto “se as crianças virem homem com homem ficam induzidas”. Para alguns esse fato seria uma ótima justificativa para que homossexuais não namorassem em locais públicos.
            A discriminação contra homossexuais ocorre, em muitas vezes, de forma velada, por meio de referências preconceituosas e pejorativas com o intuito de humilhar, discriminar, ofender, ignorar, isolar e ameaçar.                      
           Decorre dessa situação, para adolescentes homossexuais, uma dificuldade imensa em como administrar o estigma social. Esse constrangimento, produto de nossa educação machista, modula o modo de administrar sua identidade sexual. Uns assumem publicamente a existência de um (a) parceiro (a) do mesmo sexo, outros tentam disfarçar e se esconder. Em ambas as situações, tenham certeza, há muita dor e sofrimento.
Mesmo assim, na pesquisa houve uma declaração corajosa de um dos rapazes que revelou no grupo sua bissexualidade. Namora e freqüenta boate gay com a namorada, e se diz a favor da felicidade das pessoas, pois, isto é o que importa e que ninguém, segundo ele, tem que obedecer a “dogmas religiosos”, “tem sim é que buscar suas formas de sentir prazer e viver coisas novas”.
Embora vivamos numa sociedade que ainda insiste em nos ensinar que a heterossexualidade é a mais natural, correta e até mesmo a única maneira de nos relacionarmos afetiva e sexualmente, na vida real vemos que as práticas são outras e o debate sobre a afirmação da homossexualidade, está em curso.
Este debate é pautado sobre um clima de crescente liberalização dos costumes associados a estilos de vida diversos que vem se mostrando a cada dia. Ao mesmo tempo, o conservadorismo tem afiado suas garras para manter a homossexualidade no campo da promiscuidade, da doença, do desvio de comportamento, do feio, do pecado, e se mostra violento com reações que discrimina, humilha e mata. Direitos humanos, sexuais e reprodutivos são pra toda gente, sem distinção. Está na hora de repensarmos valores e o nosso papel na luta contra qualquer tipo de violência.




[1] Para saber mais adquira meu livro: Masculino e Feminino, a primeira vez, no site da Editora Hucitec.

Um comentário:

  1. Oi Silmara,
    Adorei deu texto. Infelizmente vivemos sob a ignorância de uma sociedade patriarcal e machista. E pior, mtos vestem a camisa do "diga não ao preconceito" porém reagem com uma espécie de asco ao dividir seu espaço com homossexuais, lamentável. Acredito que toda forma de amor merece respeito, e logo se ensinarmos isso aos nossos filhos é bem provável que aos poucos possamos exinguir esse paradigma.
    Bjão
    Fernanda Tezza

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