SER MÃE OU PAI NÃO É
BRINCAR DE BONECA – Um ensaio sobre a gravidez na adolescência – Do Livro: Masculino e Feminino - a primeira
vez (Ed. Hucitec). Por: Silmara Conchão (Professora da Faculdade de
Medicina do ABC – FUABC)
Nesse texto faço
referência a gravidez “não planejada” na fase adolescente, que é uma questão polêmica
na vida de uma mulher em qualquer faixa etária.
Devemos considerar que a maternidade
ainda é um componente muito valorizado da feminilidade. Nesse cenário de
atitudes e de papéis claramente designados a cada sexo, as relações sexuais
entre homens e mulheres são vividas com muita espontaneidade, ou seja, é pouco
provável que uma primeira relação sexual seja dialogada ou combinada.
A
gravidez não planejada na adolescência não é devido à falta de informação. De
acordo com meus estudos, acontece pelo desejo sexual intenso para os meninos, e
para as meninas pela falta de diálogo mais aberto na família, à imaturidade
e/ou à ingenuidade em acreditar no método tradicional do coito interrompido.
É
vista, de modo geral, como um problema, um peso para o resto da vida, pois
ocorrem mudanças importantes na vida das mães adolescentes e no cotidiano de
sua família que assume o compromisso de cuidar do bebê. Apesar de muitos
rapazes terem consciência deste fato, a maior parte não assume a paternidade. Demonstram
se assustar com a idéia, alegando que este medo de assumir um filho está
relacionado, segundo eles, com a falta de recursos econômicos, de perspectivas
de emprego, com o desejo de estudar e ainda do filho não ser deles.
A
perversa estigmatizacão das jovens mães solteiras individualiza o problema
quando responsabiliza única e exclusivamente as moças. Os rapazes ainda parecem
esquecidos neste processo, absolvidos pela sociedade. Quando os comentários
sempre se dão na direção das mulheres, a partir do conhecimento dos casos de
gravidez nesta fase: “ela não se cuidou”;
“ela é um enrosco”; “é ingênua e acreditou
nele”; “ela dá pra todo mundo”.
No entanto, esconde realidades sociais distintas e suas possíveis conseqüências
danosas relacionadas às relações de gênero, criando um estigma em torno do
público feminino quando atribui à elas a ingenuidade, a promiscuidade e a
ignorância.
A
pílula do dia seguinte, ou melhor, a contracepção de emergência vem sendo
utilizada cada vez mais como método anticoncepcional pelas adolescentes, e é de
fácil acesso nas farmácias. Nesse aspecto, vemos as meninas vulneráveis à
infecção das DSTs/Aids com a não utilização do preservativo.
Tais
afirmações representam que a informação que chega a esse público, muitas vezes,
não trata adequadamente a questão, e a garantia ao acesso desses adolescentes
aos meios de anticoncepção e/ou de prevenção ainda é um desafio para as
políticas públicas de saúde.
O
sexo sem proteção nesta fase levanta a reflexão sobre a maternidade e a
paternidade precoce. Segundo o Projeto Juventude (2004), entre adolescentes de 15 a 17 anos, o casamento
ocorre para 5%. Do total de adolescentes no Brasil 4% têm filhos, sendo 7% das
moças e 1% dos rapazes. De acordo com o
painel de indicadores do Sistema Único de Saúde (SUS) de 2006, adolescentes de 10 a 19 anos de idade
responderam por 22% de cerca de 670 mil partos ocorridos em 2003. As mães de 10 a 14 anos foram cerca de 30
mil em todo o país. Entre 2002 e 2004, nota-se uma pequena tendência de queda
da gravidez na adolescência nas regiões Centro- Oeste, Sul e Sudeste, e uma
relativa estabilidade no Norte e no Nordeste.
Na
faixa etária dos 15 aos 19 anos, entre 1998 a 2006, houve um crescimento de 13% do total
de casos de gravidez em todo o país. Essa expansão corresponde a mais de 60 mil
bebês nascidos de mães com menos de 19 anos[1].
A gravidez nesta fase se sobressai em relação
a outras faixas etárias e ganha visibilidade em razão da maior proporção de gravidez
e nascimento neste período que, na maioria dos casos, ocorre fora do casamento.
Socialmente não é legítimo que isto ocorra, pois, existe uma expectativa para
esse público relacionada ao aumento de escolaridade e à diminuição da evasão
escolar e por isso é considerada um problema social.
Reproduzimos desigualdade social e a pobreza
quando deixamos de acolher, ouvir e orientar adequadamente os e as adolescentes
sobre sexo e sexualidade. Quando permitimos que uma garota desista da escola
por conta da gravidez e quando permitimos que os garotos não assumam a
paternidade responsável e quando discriminamos e privamos esse público dos
direitos sexuais e reprodutivos, tratando-os como seres assexuados.
Seu texto é de grande importância para a reflexão sobre a gravidez de meninas e meninos adolescentes. Abçs
ResponderExcluirParabéns pelo texto Silmara, uma excelente reflexao sobre essa tematica, que muitas vezes nao recebe a atençao necessaria nem por parte do poder publico e da sociedade.
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