quarta-feira, 11 de abril de 2012

SER MÃE OU PAI NÃO É BRINCAR DE BONECA


SER MÃE OU PAI NÃO É BRINCAR DE BONECA – Um ensaio sobre a gravidez na adolescência – Do Livro: Masculino e Feminino - a primeira vez (Ed. Hucitec). Por: Silmara Conchão (Professora da Faculdade de Medicina do ABC – FUABC)

Nesse texto faço referência a gravidez “não planejada” na fase adolescente, que é uma questão polêmica na vida de uma mulher em qualquer faixa etária.
Devemos considerar que a maternidade ainda é um componente muito valorizado da feminilidade. Nesse cenário de atitudes e de papéis claramente designados a cada sexo, as relações sexuais entre homens e mulheres são vividas com muita espontaneidade, ou seja, é pouco provável que uma primeira relação sexual seja dialogada ou combinada.
A gravidez não planejada na adolescência não é devido à falta de informação. De acordo com meus estudos, acontece pelo desejo sexual intenso para os meninos, e para as meninas pela falta de diálogo mais aberto na família, à imaturidade e/ou à ingenuidade em acreditar no método tradicional do coito interrompido.
É vista, de modo geral, como um problema, um peso para o resto da vida, pois ocorrem mudanças importantes na vida das mães adolescentes e no cotidiano de sua família que assume o compromisso de cuidar do bebê. Apesar de muitos rapazes terem consciência deste fato, a maior parte não assume a paternidade. Demonstram se assustar com a idéia, alegando que este medo de assumir um filho está relacionado, segundo eles, com a falta de recursos econômicos, de perspectivas de emprego, com o desejo de estudar e ainda do filho não ser deles.
A perversa estigmatizacão das jovens mães solteiras individualiza o problema quando responsabiliza única e exclusivamente as moças. Os rapazes ainda parecem esquecidos neste processo, absolvidos pela sociedade. Quando os comentários sempre se dão na direção das mulheres, a partir do conhecimento dos casos de gravidez nesta fase: “ela não se cuidou”; “ela é um enrosco”; “é ingênua e acreditou nele”; “ela dá pra todo mundo”. No entanto, esconde realidades sociais distintas e suas possíveis conseqüências danosas relacionadas às relações de gênero, criando um estigma em torno do público feminino quando atribui à elas a ingenuidade, a promiscuidade e a ignorância.  
A pílula do dia seguinte, ou melhor, a contracepção de emergência vem sendo utilizada cada vez mais como método anticoncepcional pelas adolescentes, e é de fácil acesso nas farmácias. Nesse aspecto, vemos as meninas vulneráveis à infecção das DSTs/Aids com a não utilização do preservativo.
Tais afirmações representam que a informação que chega a esse público, muitas vezes, não trata adequadamente a questão, e a garantia ao acesso desses adolescentes aos meios de anticoncepção e/ou de prevenção ainda é um desafio para as políticas públicas de saúde.
O sexo sem proteção nesta fase levanta a reflexão sobre a maternidade e a paternidade precoce. Segundo o Projeto Juventude (2004), entre adolescentes de 15 a 17 anos, o casamento ocorre para 5%. Do total de adolescentes no Brasil 4% têm filhos, sendo 7% das moças e 1% dos rapazes.  De acordo com o painel de indicadores do Sistema Único de Saúde (SUS) de 2006, adolescentes de 10 a 19 anos de idade responderam por 22% de cerca de 670 mil partos ocorridos em 2003. As mães de 10 a 14 anos foram cerca de 30 mil em todo o país. Entre 2002 e 2004, nota-se uma pequena tendência de queda da gravidez na adolescência nas regiões Centro- Oeste, Sul e Sudeste, e uma relativa estabilidade no Norte e no Nordeste.
Na faixa etária dos 15 aos 19 anos, entre 1998 a 2006, houve um crescimento de 13% do total de casos de gravidez em todo o país. Essa expansão corresponde a mais de 60 mil bebês nascidos de mães com menos de 19 anos[1].
A gravidez nesta fase se sobressai em relação a outras faixas etárias e ganha visibilidade em razão da maior proporção de gravidez e nascimento neste período que, na maioria dos casos, ocorre fora do casamento. Socialmente não é legítimo que isto ocorra, pois, existe uma expectativa para esse público relacionada ao aumento de escolaridade e à diminuição da evasão escolar e por isso é considerada um problema social.
Reproduzimos desigualdade social e a pobreza quando deixamos de acolher, ouvir e orientar adequadamente os e as adolescentes sobre sexo e sexualidade. Quando permitimos que uma garota desista da escola por conta da gravidez e quando permitimos que os garotos não assumam a paternidade responsável e quando discriminamos e privamos esse público dos direitos sexuais e reprodutivos, tratando-os como seres assexuados.



[1] REVISTA Carta Capital, 09 de julho de 2008, p. 25. 

2 comentários:

  1. Seu texto é de grande importância para a reflexão sobre a gravidez de meninas e meninos adolescentes. Abçs

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  2. Parabéns pelo texto Silmara, uma excelente reflexao sobre essa tematica, que muitas vezes nao recebe a atençao necessaria nem por parte do poder publico e da sociedade.

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